segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

demasiado humano

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Ciladas em mim o tempo todo
Cidades inteiras repletas de ouro em pó
Um sopro, um roubo

Dos significados da manhã
(aonde parecia já não caber mais nenhum vício)

Dos sentidos da noite
(todos tinham em mente sempre o bem)

Olhando para o teto, sob os lençóis da minha cama, tinha sempre a impressão de serem quatro horas da manhã

E justo por esses pensamentos das madrugadas é que me deixava guiar aos verões.

E me petrificava aos invernos.
Por se tornarem nas várias caladas da mesma madrugada, pensamentos rigorosos como um inverno inteiro. Pensamentos de quem congela.


Mas no outono, quando dormindo, transpirava poeiras novas.


Sobre ela diziam que bastava olhar para perceber que é do tipo de sujeita capaz de fazer uma burrada, de derrubar uns copos ou quebrar uns espelhos.
Foi em simpatia a isso que decidi aceitar aquele fantasma mineral que me obrigava a uma mínima convivência comigo mesma...
(mais por generosidade com certa passagem da minha vida do que por convicção pessoal)

Na manhã há significado, a noite é uma extremidade arranhada como um disco. Para a madrugada resta a chama movediça dos que se recusam ao descanso da pele. Em recompensa, o tempo não os acusa.
Sujeitos apenas a seus próprios predicados estão.

Escolhem seus predicados em pedaços de revistas velhas ou em folhas secas. Só não levitam por causa do peso, vivem de episódios, e sabem o dia e a hora de sua morte. Tudo é definitivo e tudo é ritual, demasiado humano.
Reconheço este sentimento como quem se lembra de uma lousa mal apagada.
O dia havia acabado, e com ele a sua mocidade.




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