domingo, 23 de novembro de 2008

sobre alturas...

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era do tipo que não podia viver sem quaisquer indícios de altura à vista:


nas unhas, um cor-de-rosa descascado no tempo e na fome dos dentes
e mais ao fundo um resto, um espaçamento confortável de duas almas que se tocam sem se confundir

nesse lugar onde se pode rir de tudo
onde cada gesto sonâmbulo tenta ser milagre
ou apenas um sono que molda, como pano congelado sobre os olhos quentes

aqueci

horizontalmente calei nascimentos de sol,
(assim como nem dava conta das manhãs de sábado...)

ondas sólidas um novo corpo áreas remotas,
terras sós lagartas secas muros erodidos musas eruditas
(as vezes até parecia que estava beijando a minha própria mão...)

dias em erupções de meses e cinzanos
e as suas vontades me tocando como um piano velho...

mas descansa,
que cada gesto-sonâmbulo em mim já reflete outras sortes

moro num balcão de achados e perdidos, me sinto em casa entre estranhos
no balanço barulhento da sua rua decidi criar raízes
aéreas, expostas, maleáveis, raízes que dançam desajeitadas.

calei quando soube que sobre o seco da sua boca nada mais nasceria além do meu desassossego
e mesmo assim
sujeitos ao socialismo úmido dos amores todos, estamos...

...você gritava que tinha medo da pele branca exposta ao sol ou de cavar assoalhos com as unhas, descascar as tintas das paredes, fazer barulhos bizarros com dois corpos...
umedecer os corpos...

na areia suor lago de dois corpos movediços
abro um baú com as minhas iniciais, que afunda
revisito, de um só fôlego, todo o meu tesouro de provisões selvagens...



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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

suspenso

Alma

Respiração do corpo...



Nasci quando olhei naqueles olhos que me voltaram a estado bruto
(e todas as mesmas vertigens de um sôfrego balanço sobre telhas bambas)
Nasci ao olhar em teus dois espelhos d’agua



Suspeitos. Aos olhares da alma são só hipóteses que se afogam...

Suspendo. Agüento o frio que me devora, congela o ar dos meus pulmões-calma




Meu corpo

ar-de uma alma...