segunda-feira, 24 de agosto de 2009

resumo elétrico

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it smells electric, when skies resume:


não faltem com meus excessos.

nem mandem meus segredos por recado.

sequer tentem me ver por outro lado.

apenas missangas de mim em seu braço,
pêlo eletrostático.

it smells like a resume.


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quarta-feira, 8 de julho de 2009

rotação

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a minha garganta é feita de todos os sons deste mundo
o céu da minha boca fumega agudos cortes de estrelas
miados, sopranos, cavidade, seios da face e acústicas
falsete: um grito perante ti elucida
rasgo um tímpano exceto (há muito que é bom)

arranha-céu


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sábado, 6 de junho de 2009

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sus-tentáculo

me nasce um vento insone em pé
curvo-me
cresce uma fé avoada de outono
vento parapente que derruba meu sono

deito-me nas folhas dos teus livros perce-vejos muito bem adaptados
fixa-mente em cortiças isolantes
disputando vôos sobre os oceanos
livre das descrenças do corpo no tempo

instável vento em sua direção
derrubando sustos apagando feitiços
fumaças
tóxicas de cura

todo refúgio é um ato pagão
todo começo é uma urgência de incêndio e perdão



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terça-feira, 26 de maio de 2009

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entendimento

solene e sem fio
inexiste

apesar do todo ser feito desse mesmo aço dos meus braços
inoxidável-mente-verdade que se torna

cabeça-aço intensa especula verdades próprias
cabeça-aço intensa especula verdades próprias

o ex-petáculo se inter-rompe

não há entendimento capaz de me ver inteira




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quarta-feira, 29 de abril de 2009

sobre a gravidade

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Em estado de cena, falava de si por filas de palavras.
O peso da bebida em seus olhos, um nó na garganta. Um uivo.
Dizia: -Sua ausência é a responsável pelo meu ato mundano.
Enquanto uma força precisa arrastava sua linguagem para o mal que podia fazer a si mesmo.

Pausa. Lençóis de água rasgavam-se em ondas contra dentes brancos.
Uma árvore genealógica de folhas novas. Incidente fútil, infantil, sofisticado, obscuro, apenas presa do seu imaginário. Como o uivo.

Me instalo num café, as pessoas vem me cumprimentar, mas vc não está.
Eu te convoco em mim enquanto manipulo fatos, crio sentidos.
O incidente é um signo, não um indício. Como o uivo.

Tudo a machuca, minha risada, minha fome, minha persistência, minha indiferença, tudo...
Eu digo:-Vamos para onde olhem a gente nos olhos.
Te faço voltar na mesma proporção que te esqueço, contrariando as leis da gravidade.
Com meu uivo.

Eles existem. Correm sobre os oceanos, se alegram dos seres da noite que os habitam, frequentam os festejos escondidos em locais remotos do alto-mar, conseguem lidar consigo mesmos ao olhar para o ensurdecedor horizonte, amam os estados de tempestades noturnas e naufrágios (eles querem estar à deriva), queimam oferendas ao vento por conhecerem a dignidade das cinzas, produzem um certo som de encantamento que se perpetua na linha entre a água e o ar, e que invoca a água dos olhos.

A alcatéia inteira sorriria se acordasse mais vezes ao relento.
Sol, fome, sol, sede, sol, sono, sol, dia, sol, noite, sol, chuva, sol, encanto.


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sexta-feira, 24 de abril de 2009

carícia

Gostava de sentir os cabelos assim soltos mesmo, soltos e escorrendo sobre o rosto como uma carícia constante de si para si. Ali naquele lugar formava-se um estado ideal de troca entre a pele do rosto e aqueles fios que cresciam. Todos sabem que a pele do rosto é aquela que mais precisa da carícia. O cabelo crescia e provocava seu corpo a alguma resposta... mudava seu jeito de se inclinar para a frente e para trás, de chamar um taxi ou de olhar para os olhos dos outros. Aqueles fios cresciam enquanto só fazia crescer nela o desejo por todo e qualquer tipo de vento que a soprasse, na rua, nos corredores, no caminho para o trabalho.

Tudo isso a fazia se sentir mais forte.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

outono

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Lembro do dia em que te reconheci. Foi num outono desses, como tantos... vc me viu enlouquecer aos céus daquele outono todo, velando meu sono, evitando que eu entrasse naquelas brigas feias em plenos salões de poker da Rua Anatole, pousando bifes sobre meus olhos injetados, pagando prestações atrasadas do meu sofá empoeirado, me mostrando o pôr-do-sol de Friedrichshain, fazendo dos seus jantares vegans pra mim o tempo todo...............


..............ora vc sabe, um olhar sobre minhas mãos e era como se houvesse uma carta com tudo escrito sobre mim que vc havia lido antes de ir ao meu encontro e esse alento que vc me dava de quase um frio e eu podia te esquentar um pouco com uns movimentos rápidos sobre seu casaco de lã e vc sorria sempre enquanto andávamos próximos como dois amigos e gostávamos de ter um ao outro no outono todo e acordávamos apenas para nos telefonar e contar qualquer sono besta e gostávamos do cheiro da rede de cafeterias 01 minuto mas vc achava o gosto do café forte demais e sempre me dava sua metade enquanto os tipos mau-humorados grunhiam para liberarmos o balcao, mas era confortavel pra vc ficar de pé sobre o aro de apoio do contorno do balcao das cafeterias 01 minuto, além do que eles poliam as máquinas a toda hora até ficarem douradas e gastas mas a luz era mesmo bacana sobre elas, era bonita mesmo, e vc sempre queria tirar umas fotos bestas daquelas máquinas com seus vapores........................ e agora, enquanto te escrevo essas palavras, vejo que eu já nao sei mais como seria se eu não pudesse enlouquecer de outono, sem ter voce nele...


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quarta-feira, 15 de abril de 2009

pergunta ao tempo

me pareço com essas garotas que desmontam um despertador para saber o que é o tempo.
inventando sentidos ponteiros que me fazem arrepiar de entendimento.
mas saiba, é o acaso que intriga comigo.
enquanto vejo meu corpo, histericamente, produzindo incidentes.

por isso sujeita a acessos de afastamento estou.
temporários, costumava dizer isso... como quem fala sobre o tempo lá fora.
melhores se consumidos em... sondava, como quem conta com o tempo de dentro.

e você me espera aí onde não quero ir.
e você me ama aí onde não estou.
(como um distante que não manda sinais por auto consumí-los em si mesmo a cada novo surto de procura pelo outro)
nada sobra para dar
(mas sua voz não dava o que seu corpo dava)

mas olha que essa ausência bem suportada não é nada além de esquecimento...

entre uma e outra valsa contida, me pergunto:

como será aos que quiserem algo que os salve dessa falta de realidade, sem que esse algo seja um medo, um mito ou um modo adequado... ?

temos tempo?

quarta-feira, 25 de março de 2009

escrevi essa letra pra ver se o Chico canta...

Grave.



tudo é grave para mim, eu nao queria
de uma gravidade que, ou é noite ou é dia
de uma gravidade água com sal
que lava as feridas e me dói no natal

tudo é elementarmente grave e duradouro
nada passa rápido, nada é apenas "só um besouro"
meu relógio tem que ser de couro
se demorar, troco plástico por ouro

nao me diga que vai ligar, porque eu ligo
nao me faça pensar que tenho um abrigo
se vc continuar a bulir comigo
nada encerra esse grave em que eu fico

nao me deixe esperando uma resposta
nao me deixe plantada na sua porta
nao me peça pra ir sem estar
nao me queira apenas por gostar

tudo é grave para mim, é bom que saiba
tudo faz uma festa na minha alma
nada pode nao ser uma overdose
mas ser grave é bom, espero que goste

além de tudo ser grave, eu tenho pressa
quero sempre ver onde começa
nao possuo essa placidez rebuscada
finjo que sim mas em mim é só fachada
lá dentro tem duas espingarda
e um copo de whisky pra dormir melhor...


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sábado, 21 de março de 2009

uma...

Escrevo torta,
como quem procura uma rua sem saida em um mapa recortado a vapor.
Torta e sem aviso,
como quem corre de repente por precisar ouvir o som do próprio fôlego.

Escrevo com segundas intenções,
como uma alma de moça largando pistas de concreto pelo chao de uma sala espelhada...
Ou só,
como quem aplaude, bêbada de maioridade, à estréia de uma vida intimamente encenada.

Escrevo para que um anjo marque um encontro com um demônio.

Escrevo como quem costura um véu.

Escrevo para gestos que se descobrem, enfim...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

demasiado humano

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Ciladas em mim o tempo todo
Cidades inteiras repletas de ouro em pó
Um sopro, um roubo

Dos significados da manhã
(aonde parecia já não caber mais nenhum vício)

Dos sentidos da noite
(todos tinham em mente sempre o bem)

Olhando para o teto, sob os lençóis da minha cama, tinha sempre a impressão de serem quatro horas da manhã

E justo por esses pensamentos das madrugadas é que me deixava guiar aos verões.

E me petrificava aos invernos.
Por se tornarem nas várias caladas da mesma madrugada, pensamentos rigorosos como um inverno inteiro. Pensamentos de quem congela.


Mas no outono, quando dormindo, transpirava poeiras novas.


Sobre ela diziam que bastava olhar para perceber que é do tipo de sujeita capaz de fazer uma burrada, de derrubar uns copos ou quebrar uns espelhos.
Foi em simpatia a isso que decidi aceitar aquele fantasma mineral que me obrigava a uma mínima convivência comigo mesma...
(mais por generosidade com certa passagem da minha vida do que por convicção pessoal)

Na manhã há significado, a noite é uma extremidade arranhada como um disco. Para a madrugada resta a chama movediça dos que se recusam ao descanso da pele. Em recompensa, o tempo não os acusa.
Sujeitos apenas a seus próprios predicados estão.

Escolhem seus predicados em pedaços de revistas velhas ou em folhas secas. Só não levitam por causa do peso, vivem de episódios, e sabem o dia e a hora de sua morte. Tudo é definitivo e tudo é ritual, demasiado humano.
Reconheço este sentimento como quem se lembra de uma lousa mal apagada.
O dia havia acabado, e com ele a sua mocidade.




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