quarta-feira, 29 de abril de 2009

sobre a gravidade

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Em estado de cena, falava de si por filas de palavras.
O peso da bebida em seus olhos, um nó na garganta. Um uivo.
Dizia: -Sua ausência é a responsável pelo meu ato mundano.
Enquanto uma força precisa arrastava sua linguagem para o mal que podia fazer a si mesmo.

Pausa. Lençóis de água rasgavam-se em ondas contra dentes brancos.
Uma árvore genealógica de folhas novas. Incidente fútil, infantil, sofisticado, obscuro, apenas presa do seu imaginário. Como o uivo.

Me instalo num café, as pessoas vem me cumprimentar, mas vc não está.
Eu te convoco em mim enquanto manipulo fatos, crio sentidos.
O incidente é um signo, não um indício. Como o uivo.

Tudo a machuca, minha risada, minha fome, minha persistência, minha indiferença, tudo...
Eu digo:-Vamos para onde olhem a gente nos olhos.
Te faço voltar na mesma proporção que te esqueço, contrariando as leis da gravidade.
Com meu uivo.

Eles existem. Correm sobre os oceanos, se alegram dos seres da noite que os habitam, frequentam os festejos escondidos em locais remotos do alto-mar, conseguem lidar consigo mesmos ao olhar para o ensurdecedor horizonte, amam os estados de tempestades noturnas e naufrágios (eles querem estar à deriva), queimam oferendas ao vento por conhecerem a dignidade das cinzas, produzem um certo som de encantamento que se perpetua na linha entre a água e o ar, e que invoca a água dos olhos.

A alcatéia inteira sorriria se acordasse mais vezes ao relento.
Sol, fome, sol, sede, sol, sono, sol, dia, sol, noite, sol, chuva, sol, encanto.


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2 comentários:

Ghost-writer disse...

adoroooooooooooooo berdi..que show, n sabia q escrevia ;)

pocket novel disse...

:) esse é um dos meu favoritos...